Wednesday, February 13, 2008

Os esporões - reprise



Já não é a primeira vez que trago este assunto à baila. Falo da construção desregulada de esporões ao longo do litoral Português. O que me faz regressar a este tema é uma notícia saída no JN de hoje que fala em promessas de obras para o esporão da Aguda.

São duas as questões que se me assombram, e vou tentar ser imparcial e lógico com este tema que me é particularmente próximo.

1) A existência de uma comunidade piscatória, por muitos pescadores que ela inclua, não pode servir de justificativo para a construção de um ou mais esporões. Veja-se o lindo estado do litoral entre o porto de leixões e ovar. Um verdadeiro cemitério de esporões. Tal qual numa empresa, onde os recursos são afectos às áreas onde eventualmente virão a ser mais produtivos, também os barcos de pesca devem estar localizados numa grande infraestrutura (vide porto de leixões, por exemplo). Os pescadores, mesmo não tendo residência na zona onde os barcos estão aportados, aí aportariam, deslocando-se posteriormente para as suas casas. Parece-me de bom senso. Eu até estaria de acordo em criar um subsidio de deslocações para estes pescadores se deslocarem entre as suas casas e os grandes portos de mar. Também me parece de bom senso.

2) A construção de um esporão não é garantia da cessação de problemas de erosão no litoral, nem evita que o mar, em ocasiões de grandes ondulações, destrua construções humanas. Antes pelo contrário. Os esporões forçam mudanças nas areias do fundo do mar, acelerando a erosão do litoral circundante e obrigando a posteriores intervenções humanas para remoção ou recolocação das mesmas. Ou seja, estranheza das estranhezas, uma intervenção humana de elevados custos (construção de um esporão) obriga a outras sucessivas intervenções humanas de elevados custos (remoção de areias). Parece-me de bom senso.

Quem ganha com este processo repetitivo? As pequenas comunidades piscatórias (será que meia dúzia de votos obrigam a esta cega obediência), os construtores de obras públicas (obviamente), e as câmaras municipais (pelos licenciamentos concedidos aos construtores).

Quem perde? O contribuinte e o litoral do país (por coincidência das nossas duas maiores riquezas).

O que me parece um contrasenso é que continuemos a usar os esporões como método de protecção contra os avanços do mar, mas tal continua a acontecer, mesmo depois de provadas erradas todas estas intervenções. Einstein disse uma vez que era sinal de pouca inteligência repetir os mesmos erros e esperar resultados diferentes...

1 comment:

Anonymous said...

Boa tarde.
Pois é esta temática daria "pano para mangas" infelizmente os meus colegas das areas sobejamente conhecidos sobre este tema, cá fora aquando estudantes falavam sobre isto de uma forma, agora que estão lá dentro fazem a mesma figgura dos viciados financeiros nem que para tal passem por cima dos portugueses.
Vi este blog sem querer mas fico grato por haver cidadãos que me lêm quanto mais não seja no Jn ou Canal Porto ou TVi, pelo menos alerto para esta problemática que tanto dinheiro dá a ganhar a tanta gente!...
Com consideração,
Jorge Amaral