Friday, October 26, 2012

O que eu faria com os 336 mil euros de Catarina Furtado

Henrique Raposo escreve hoje no expresso algo que subscrevo inteiramente:

"Fará algum sentido, em qualquer momento, mas particularmente neste,
que o contribuinte pague mais ao apresentador de "O Preço Certo Em
Euros" do que ao primeiro-ministro? Será, digam-me, mais difícil
apresentar a "Praça da Alegria" do que ser ministro das Finanças,
entalado entre a troika e as manifs? E Catarina Furtado - pelo que diz
a imprensa, a apresentadora mais bem paga da RTP - aceitou uma redução
salarial de 20% em Junho. Significa isso que vai passar de 30 mil para
24 mil euros mensais. (Respiremos fundo.) Não está em causa se
Catarina merece tal ordenado (tive o grato prazer de trabalhar com ela
e posso, caro leitor, atestar do seu profissionalismo. E sim, é ainda
mais bonita ao vivo). Está em causa se deve ser o contribuinte a
pagá-lo.

Não há qualquer razão para que o cidadão-enquanto-contribuinte
sustente uma guerra de audiências desprovida de qualquer sentido entre
sector público e privado, particularmente se tivermos em conta que o
cidadão-enquanto-telespectador poderá continuar a desfrutar dos
talentos de Jorge Gabriel, Fernando Mendes ou Catarina Furtado numa
SIC ou numa TVI, que terão o maior prazer em oferecer-lhes os
ordenados que os accionistas quiserem e bem entenderem.

E que faríamos ao dinheiro poupado? Documentários, magazines culturais
e de interesse social, grandes reportagens, programação pedagógica
para crianças e jovens, uma selecção de filmes essenciais, uma grelha
que poderia e deveria ser articulada com os planos de leitura e cinema
do Ministério da Educação e da Secretaria de Estado da Cultura.

Falar é fácil, dirá. E estará correcto - não se programa uma estação
de televisão numa modesta coluna de jornal. Mas, para que tenha uma
ideia, o custo médio de um documentário para a RTP2 rondou, nos
últimos anos, 10 mil euros. 10 mil. Os 336 mil euros anuais do novo
ordenado de Catarina Furtado dariam para 33 documentários, sendo que o
último se poderia estragar com um orçamento de 16 mil loucos euros. Se
a bitola for o antigo ordenado de Catarina, então teríamos 420 mil
euros anuais = 42 documentários. "Sociedade Civil", o magazine-emblema
da 2 que, há seis anos, junta mais de 120 organizações da dita
sociedade, não custa muito mais do que isso. De segunda a sexta-feira,
durante um ano inteiro. Para pagar apresentadora, realizador,
jornalistas, produtores, técnicos, meios, tudo.

Muito antes de falar em privatizar ou não a RTP, devemos, pois, pensar
que RTP queremos ter, tendo em conta o serviço público que deve
prestar e aquilo que podemos pagar por ele. Para além de uma
longuíssima lista de instituições da sociedade civil que podem
contribuir com meios, preocupações e conhecimento, há uma geração de
brilhantes documentaristas portugueses - brilhantes mesmo - que seria
criminoso ignorar numa nova RTP: Miguel Gonçalves Mendes, Gonçalo
Tocha, José Filipe Costa, Marta Pessoa, Graça Castanheira - só para
citar alguns. Há um país ainda grandemente iliterato para quem o
serviço público de televisão deve trabalhar. Há centenas de milhar de
jovens e crianças que se podem educar, de forma mais económica e
eficaz, com o auxílio da RTP. Há um público que quer ver televisão em
Português, para além dos reality-shows, dos programas ditos de
entretenimento e da informação mastigada até à náusea por um exército
de comentadores."

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-que-eu-faria-com-os-336-mil-euros-de-catarina-furtado=f762136#ixzz2AP5scY9N

Thursday, October 25, 2012

Grupo BES e Governo lamentável / Sempre fui adepto da gestão conservadora e ética do BPI

Notícia hoje no Jornal de Negócios, na sequência das escutas entre
José Maria Ricciardi e Pedro Passos Coelho:

"Quem contestou teve logo outro ajuste directo a seguir. O BPI não
entrou nessa discussão. Houve duas contratações do Estado nas
privatizações. O primeiro contrato foi para a Perella, o segundo foi
entregue a quem protestou" pela escolha da boutique financeira, que
"ficou como assessor do Estado nas privatizações da TAP e da ANA".

Foi assim que Fernando Ulrich respondeu aos jornalistas quando
questionado sobre a adjudicação directa da venda da EDP à Perella.

Poucas horas depois das críticas do banqueiro, o Banco Espírito Santo
de Investimento (BESI) reagiu. "As declarações de Fernando Ulrich
sobre o BESI e as privatizações da TAP e da ANA são absolutamente
lamentáveis", adiantou fonte oficial da instituição ao "Diário
Económico".

Fernando Ulrich não chegou a referir explicitamente o BESI e o seu
presidente, José Maria Ricciardi, mas ficou claro, na apresentação de
contas trimestrais, que se referia ao banco de investimento do grupo
liderado por Ricardo Salgado. O presidente do BPI sublinhou ainda que
"valeu a pena protestar", já que o banco de investimento do BES acabou
por ser escolhido para assessor do Estado na venda da TAP e da ANA.

"O BPI não protestou pelo primeiro nem pelo segundo contrato, mas
teríamos feito um bom trabalho. Estamos a apoiar um dos candidatos à
privatização da ANA e estamos a trabalhar para que o nosso candidato
ganhe", sublinhou Ulrich.

Nas últimas semanas, o "Público" e o "Expresso" reproduziram escutas
telefónicas em que se constatava que o líder do BESI chegou a
protestar junto do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e do
ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, pela contratação
da boutique financeira, no final do Verão de 2011.

Notícias que levaram Ricciardi a emitir um comunicado assumindo que
transmitiu "a vários membros do Governo a minha discordância pelo
facto de o Estado ter contratado a firma norte americana Perella por
ajuste directo, quando se exigia, na observância do rigor e da ética,
que se elegessem as assessorias financeiras através de concurso
público". No entanto, o banqueiro sublinhou que esse comportamento
"não configura ilicitude, irregularidade ou sequer censura".

As críticas à contratação da Perella, que agora ganharam rosto, foram
noticiadas pela imprensa logo no Verão de 2011. Na altura, a imprensa
deu conta da "surpresa" e "desconforto" que a adjudicação causou entre
diversos banqueiros. Ao ponto de o Governo ter imposto à Caixa Geral
de Depósitos a contratação da boutique financeira, evitando assim o
risco de ter cometido alguma irregularidade por ter feito um ajuste
directo de uma assessoria financeira a uma instituição que não
integrava a lista de bancos pré-qualificados para o efeito.

Apesar de não ter sido contratado para assessor do Estado na
privatização da EDP, o BESI acabou por participar nesta operação, como
assessor financeiro da Three Gorges, a empresa chinesa que acabou por
sair vencedora neste negócio.